sexta-feira, 4 de abril de 2014

Rumo a uma nova cultura...

Minhas leituras me levaram a um novo "Bum!" filosófico ontem a noite, quando comecei a ler "Rumo a uma nova cultura - da recusa à re-criação, esboços de uma alternativa ecológica e humana", de Dieter Duhm, sociólogo alemão, que, em 1995, juntamente com a teóloga Sabine Lichtenfels, funda "Tamera", um centro de pesquisa de paz em Portugal. Ele dedicou a vida à criação de um fórum eficaz para uma iniciativa de paz global, à altura das forças destrutivas da globalização capitalista, uma nova cultura, aliada a retomada de nossa ligação com todos os seres vivos e a Grande Mãe, Pachamama, na linguagem dos sábios ancestrais indígenas.
Após minha "descoberta" da teoria do cérebro trino, que nos liga aos nossos ancestrais mais selvagens, Duhm me traz agora uma realidade ainda mais evidente, ligando a derrota dos protestos estudantis dos anos 60 e 70 no mundo todo, à necessária nova identidade humana.
O autor nos deixa claro que toda e qualquer tomada mundial de consciência ecológica anticonsumista é incabível enquanto o ser humano não retomar sua ligação mental-espiritual. Enquanto não rompermos as barreiras derivadas da lógica do sistema capitalista, que nos levou coração, sentido e razão, não poderemos criar uma cultura realmente disposta a salvar o mundo. Ele cita "... só podem ser resolvidas (as questões problemáticas mundiais) de maneira efetiva e duradora quando o ser humano encontrar uma forma fundamentalmente nova de se relacionar consigo próprio, com o próximo, com os outros seres vivos, e com o planeta inteiro. Uma nova forma de se relacionar significa um novo comportamento, um novo modo de vida."
Neste contexto, a questão é que a humanidade deve envolver-se na transição de uma época cultural baseada no lucro, para uma época cultura baseada na vida. Temos que abrir mão do conforto condicionado pelo capitalismo e buscarmos a satisfação da vida no tempo disponível, no relacionar-se, no fazer o que se gosta e, acima de tudo, na real liberdade, rompendo as barreiras impostas pela falsa ideia de valores e morais que prendem nosso "eu" animal no inconsciente, e o liberta nos momentos de extremos do limite de consciência, em forma de raiva, ódio, pensamentos e ações ruins.
"A violência é a erupção de energias vitais bloqueadas. (...) O pacifismo é a luta fundamental contra todo tipo de repressão dos desejos humanos"
O autor cita a sabedoria de um antigo chefe Sioux, dizendo: "Meu povo - não há crescimento sem dor, nem dor sem crescimento. Não nos escondemos da dor, da morte ou da vida. Os ocidentais viram-lhe as costas: recebem carne limpa de sangue em embalagens higiênicas. Tentam negar a santidade da vida, que exterminam, quando matam um mosquito. - Porque nunca nos escondemos do menor grito de dor, iremos sobreviver".
Em cima disso, afirma: "Sofrer faz parte da vida criativa, pois a vida criativa é a superação do velho, é quebra de grades, transgressão de fronteiras. Nossa época é tão complicada e tão contraditória que o ideal comum de uma vida calma,simples, e livre de dor, não tem qualquer sentido criativo. (...) A cura interior é um processo pelo qual o sofrimento se transforma em consciência, recolhimento, energia.(...) Onde as forças elementares do instinto e do crescimento do ser humano colidem com as barreiras sociais, o ser humano divide-se entre um lado "normal", que corresponde às boas maneiras da sociedade, e um "outro" lado, que fermenta no escuro e irrita o ritmo quotidiano com seus sinais de provocação. A verdadeira humanização do mundo humano consiste em libertar o "outro" da sua existência reprimida e, aos poucos, reintegrá-lo na vida diária. O que o ser humano não tiver em conta em um estado consciente de ação, vira-se sempre contra ele... o que ele não domina verdadeiramente acaba por dominá-lo a ele. Cada neurose e cada doença psicossomática é prova do limite da natureza violentada do ser humano."
O que acontece é que o sistema mal pensado dos nossos modos de vida que opera a sociedade de hoje trouxe consigo uma onda de sofrimento pela paralisação de acontecimentos naturais da vida, em todos os níveis. A criação de uma cultura em sintonia com as leis da vida só será possível, antes de mais nada, após a criação de novos espaços sociais e ideais psíquicos, onde os humanos possam retomar uma vida livre e aprender a respirar. Estes espaços surgem apenas quando a cura fiável contra o medo e o ódio - o amor -  puder ser desenvolvido sem as mesmas barreiras criadas pela cultura mundial atual.
"A doença biológica da nossa cultura e da nossa civilização é o medo, medo como resultado de bloqueios bioenergéticos e espirituais. E o medo é inimigo do amor. (...) Geralmente não nos damos conta do medo porque os nossos acordos morais , as conversações culturais, as nossas ideologias e formas de comportamento são todos formados por ele. O medo é indissociável do sistema do nosso cotidiano. É o fermento psíquico e catalisador emocional de toda a nossa cultura. A maior parte das pessoas não conseguem nem imaginar o que significa amar sem medo, porque o que elas chamam de "amor" está tão associado ao medo de perder alguém, medos sexuais, medo de autoridade, de rejeição, de ficar sozinho, de traição, que o absurdo da situação já não é nem mais reconhecido. Percebidas são, mais uma vez, apenas as consequências: ciúmes, doença, depressão, e relacionamento rompidos. Amar sem medo é sem dúvida o oposto que em nossa cultura é chamado de amor. A verdade dessas inter-relações pertence ao aspecto mais inacreditável que a nossa época tem para oferecer. Qualquer um que não veja isso, ou pelo menos uma parte disso, pode fechar este livro agora porque para ele  só virão mais disparates."
É claro que eu não fechei o livro... rsrsrsrsrsrsrs...
O que precisamos é uma nova filosofia que de fato lide com a mágica da vida. Todas as tentativas, ao longo da história, de melhorar o mundo através da moral e da religião e de dominar com apelos racionais falharam. O ser humano tornam-se verdadeiramente humanos na medida que reconhecem suas verdadeiras necessidades (físicas, emocionais, espirituais) e se realizam socialmente (vida conjunta com outras pessoas). Somente poderemos realizar um novo modelo cultural quando identificarmos um modelo melhor e mais autêntico de auto-realização e satisfação das necessidades, desenvolvendo assim um novo modelo de consumos, reduzindo desgaste de recurso, matérias primas e energia, conseguindo dessa forma a tão esperada salvação do meio ambiente da destruição.

"Só através da reconexão da ação humana com o funcionamento dos processos vitais universais será possível superar a alienação geral da nossa época."

É necessária uma urgente religação com nossa ancestralidade, com nossos irmãos da Terra, e com a Grande Mãe, Gaia. Retomarmos nosso lugar na teia da vida, para então encontrarmos a forma de salvar o mundo.
O livro continua, isto se refere a metade da descoberta apenas... No próximo post continuo, aprofundo e aí começam os conflitos diretos com as barreiras moralistas, culturais, sociais e consumistas do ser humano deste século...

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